Crônica: (Re)Engenharia do Rock: O PASSAGEIRO
- 08/07/2024
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(Re)Engenharia do Rock
Leonardo Daniel
O PASSAGEIRO (The Passenger)
Capital Inicial – Dinho Ouro Preto
Eu sou o passageiro
Eu rodo sem parar
Eu rodo pelos subúrbios escuros
Eu vejo estrelas saindo no céu
É o claro e o vazio do céu
Mas essa noite tudo soa tão bem
Entre no meu carro
Nós vamos rodar
Seremos passageiros à noite
E veremos a cidade em trapos
E veremos o vazio do céu
Sob os cacos dos subúrbios aqui
Mas essa noite tudo soa tão bem
Cantando lá-lá, lá-lá (lá-lá-lá-lá)
Cantando lá-lá, lá-lá (lá-lá-lá-lá)
Cantando lá-lá, lá-lá (lá-lá-lá-lá) lá-lá
Olha o passageiro
Como, como ele roda
Olha o passageiro
Roda sem parar
Ele olha pela janela
E o que ele vê
Ele vê sinais no céu
E ele vê as estrelas que saem
E ele vê a cidade em trapos
E ele vê o caminho do mar
E tudo isso foi feito pra mim e você
Tudo isso foi feito pra mim e você
Simplesmente pertence a mim e você
Então vamos rodar e ver o que é meu
Lá-lá, lá-lá (lá-lá-lá-lá)
Lá-lá, lá-lá (lá-lá-lá-lá)
Lá-lá, lá-lá (lá-lá-lá-lá) lá-lá-lá
Olha o passageiro
Que roda sem parar
Ele está seguro ali
Conhece o mundo pelo vidro do carro
E isso tudo ele sabe que é seu
Ele vê o vazio do céu
E ele vê cada estrela sair
E ele vê a cidade dormir
E tudo isso é meu e seu
E tudo isso é meu e seu
Então vamos rodar e rodar e rodar e rodar
Cantando lá-lá, lá-lá (lá-lá-lá-lá)
Lá-lá, lá-lá (lá-lá-lá-lá)
Lá-lá, lá-lá (lá-lá-lá-lá) lá-lá
Análise Pessoal:
Em “O Passageiro” somos convidados a fazer uma viagem, quando ele afirma: “Eu sou o passageiro” ele na verdade está te fazendo um convite para você mesmo, ‘o você’ vai ser também um outro passageiro, e ele é o passageiro inicial, e tem experiência nessa vida quando ele afirma: “Eu rodo sem parar”. O convite está feito... ele conhece as entranhas da noite, e seja pelos subúrbios escuros, seja, pelas estrelas que pintam o céu. E no lusco-fusco essa noite soa tão bem. Desta forma, o segundo passageiro (o eu lírico convidado) entra no carro. E eles vão rodar pela existência, materializada na noite. (Seremos passageiros à noite/E veremos a cidade em trapos/E veremos o vazio do céu). É uma experiência espiritual e não só um distraído passeio, pois vamos rodar:
Sob os cacos dos subúrbios aqui
Mas essa noite tudo soa tão bem
O eu lírico inicial; o passageiro que faz o convite, faz um pedido: para nós olharmos o segundo passageiro. Mas, afinal o que ele vê? “Ele vê sinais no céu” tudo passa a ter um profundo significado, (Ele olha pela janela/E o que ele vê)... há um paradoxo nessa viagem, pois ao mesmo tempo em que ele vê as estrelas que saem... ele vê a cidade em trapos.
E ele vê o caminho do mar
Há agora uma revelação sobre a interlocução dialógica. Vejamos: (E tudo isso foi feito pra mim e você/Tudo isso foi feito pra mim e você). O pronome pessoal (você) revela a identidade do interlocutor, cujo convite fora feito e aceito. Há um sentimento de pertencimento.
Simplesmente pertence a mim e você
Então vamos rodar e ver o que é meu
De quem é esse mundo? Esse mundo pertence ao segundo passageiro... “que roda sem parar”. E assim ele permanece seguro, pois ele conhece o mundo pela proteção do veículo. “E isso tudo ele sabe que é seu”. Mas alguma coisa ficou para traz, já que ele vê o vazio do céu. E enquanto tudo isso acontece, ele vê “cada estrela sair” e como grande observador que é, ele vê “a cidade dormir”.
À guisa de conclusão:
Essa canção tem uma letra um pouco difícil de entender, pois o primeiro interlocutor se apresenta como sendo o primeiro passageiro, (eu sou o passageiro) mas logo surge um segundo passageiro, ele olha pela janela... e (o ele) se transforma em (você). Pois, o convite feito é aceito. Esse passeio é na verdade uma visita ao caos (a cidade em trapos). Isso tudo é um passeio entre o bem e o mal; e “essa noite tudo soa tão bem”.
Leonardo Daniel
17/12/2023